terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Anjos existem. Hoje eu sei.

                



   
   Olá, meu nome é Flavia, tenho 24 anos, estou no fim do meu curso de psicologia. Queria colocar aqui todas as maravilhosas experiências que tive ao logo desse tempo de estudo, de aprendizagem. Mas não caberia. Então, escolhi um especial.
   Tive o prazer de conviver durante um período do meu curso, com crianças que tinham câncer. Foi um trabalho maravilhoso e nunca aprendi tanto quanto nessa época. Tinha dias que levantava da cama dizendo: Hoje eu não vou chorar. E era só pensar naquelas crianças maravilhosas, meus olhos já se enchiam de lágrimas. No caminho do hospital, ia me programando, pensando no que ia dizer a cada nova historia que eles me contariam e a cada nova notícia. Mas era só chegar a porta daquele lugar de luz que eu me perdia com as palavras. Eu odeio rotina, mas essa era uma exceção. Tinha um enorme prazer de ir a aquele lugar, brincar com aqueles anjos e saber tudo sobre as vidas difíceis e vencedoras que cada um daqueles meninos e meninas. Era paixão... Era não, é!
    Mas tinha uma criança que era especial. O nome dele era Daniel, o meu anjo Daniel. Ele sabia o meu horário de chegada, e ficava me esperando na portaria. Tinha que ser o primeiro a me abraçar. Sabia também o meu horário de saída, e chorava a cada dia que eu saía daquele lugar. Com o coração na mão, o abraçava com tanto carinho que parecia ser um filho meu, como se estivesse sido gerado de dentro de mim. Sua história era a que mais me comovia. Tinha leucemia, foi maltratado pelos seus pais, e jogado naquele hospital como um animal. Não tinha família, tinha apenas aquele lugar, onde viveria até completar maior idade, já que ninguém queria adotar um menino que nada se sabia sobre, e ainda tinha câncer.
    Ele era fechado, não parecia gostar das pessoas. Conhecendo ele e aprendendo no meu curso, descobri que ele tinha medo das pessoas, medo do ser humano, medo de amar e ser jogado em qualquer lugar mais uma vez. Talvez seja normal em alguma parte de nossas vidas termos esse sentimento, de medo das pessoas. Mas ele era apenas uma criança, e essas não têm medo, pelo menos não de amar. Ele tinha. Só que comigo era diferente, ele nunca teve medo de mim. Eu sentia que ele me amava. Desenhava meu rosto e colava o papel na parede. Ele dizia que era pra que quando eu fosse embora, ele não se esquecer de mim, do meu rosto. Andávamos de mãos dadas pelo hospital e as vezes até o carregava. As outras crianças não tinham ciúmes, cada uma tinha o seu “adulto preferido”... É como se fosse uma ligação forte de cada pessoa que entrava naquele lugar com alguma criança que estava ali. Coisa de Deus, não tem como explicar.
    Aprendi tanto nesse hospital e hoje vejo que foi a melhor coisa que já me aconteceu. Cheguei a prometer a mim mesma que quando acabasse meu curso, voltaria àquele lugar e adotaria o meu anjo Daniel. Estava mesmo disposta a cuidar dele com todo o meu amor e carinho. Mas há dois dias, tive a infeliz noticia que ele falecera. Nunca chorei tanto em minha vida. No meu ultimo dia de estágio lá, ele me disse que ia me amar até quando não pudesse mais aguentar. Tinha fé que ele se recuperaria, mas não aconteceu. Queria aquele menino comigo, pra me fazer sorrir até ficar velhinha em cima de uma cama. Mas ele se foi primeiro. Não deu tempo para eu me despedir. Hoje choro de tristeza, mas tenho a certeza de que ainda nos encontraremos em algum lugar, muito mais bonito do que aquele hospital, muito mais eterno, do que aqui.
    Se a missão dele foi me fazer feliz, ele conseguiu e espero que o tenha feito feliz também. Fique em paz, meu anjo, nos encontraremos logo mais. Espere-me.


~                      texto totalmente fictício!

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